“Os jovens são simplesmente mais espertos” afirmou Mark Zuckerberg para 650 aspirantes a empreendedores em um evento da Y Combinator Startup School, nos idos de 2007.
A lógica por trás dessa constatação polêmica era objetiva: pessoas jovens levam uma vida mais simples, logo, são capazes de dedicar sua atenção a problemas maiores. Agora que Zuckerberg passou dos trinta, suspeito que ele não concorde mais com essa afirmação — aliás, tenho certeza disso.
Porém, a ideia que ele lançou lá atrás ainda ecoa no presente. O Vale do Silício ainda fetichiza a juventude, e muitas pessoas provavelmente olham para o Zuckerberg de 22 anos como o arquétipo do fundador. Pesquisas confirmam que muitos consideram jovens empreendedores mais motivados e mais capazes de resolver grandes desafios.
Só tem um problema: um volume substancial e crescente de dados mostra que essa imagem está totalmente errada. Um estudo publicado em 2017 revela que a idade média de um fundador de startup é de 42 anos. O número de novos empreendedores nos Estados Unidos é realmente mais alto entre pessoas de 45 a 54 anos e mais baixo entre a galera de 20 a 34 anos.
Os equívocos do senso comum não se limitam ao fator “idade”. Nos Estados Unidos, os imigrantes têm duas vezes mais chances de abrir negócios em comparação com os cidadãos nativos. Enquanto isso, as empresas lideradas por mulheres trazem melhores taxas de retorno de forma consistente. O número de empresas de propriedade de pessoas negras nos Estados Unidos aumentou 400% entre 2017 e 2018, e as mulheres negras são o grupo demográfico de crescimento mais rápido no universo do empreendedorismo. Além disso, mais da metade das mães que entrevistamos relatam interesse em abrir seu próprio negócio.
Em termos de gênero, classe socioeconômica e etnia, a maioria dos empresários não se parece em nada com o estereótipo “Zuckerberg”, o jovem homem cis-hétero branco, que usa moletom com capuz e chinelo.
Esse não é apenas um problema de imagem: esse estereótipo tem consequências econômicas e sociais profundas e crescentes. Hoje, segmentos inteiros da população continuam a descartar o empreendedorismo como uma carreira reservada para poucos da elite, e os estereótipos sobre o fundador jovem branco perpetuam esse mito. Essa ideia precisa ser descartada para ontem.
Por que a diversidade no empreendedorismo importa?
A natureza do trabalho está em transformação. Os avanços tecnológicos estão mudando a forma como as indústrias funcionam e, com isso, as oportunidades de emprego de longo prazo em uma empresa estão ficando mais raras. Algumas organizações estão ajudando os trabalhadores a se adaptarem, mas, para a maioria, o peso de encontrar um encaixe nesse novo cenário fica todo sobre o indivíduo.
A questão é que o mundo está repleto de problemas e, mais que nunca, precisamos de pessoas capazes de resolvê-los.
Apesar de a tecnologia ter dificultado a configuração de uma carreira tradicional, ela também diminuiu os obstáculos para empreender.
Ferramentas e plataformas como a Shopify, o Kickstarter e o PayPal estão tornando mais fácil do que nunca para pessoas com recursos limitados iniciar e expandir empresas sem grandes quantidades de capital. Esta é uma diferença gritante com a realidade que meu pai e minha avó enfrentaram na época deles: eles tiveram que hipotecar suas casas duas vezes para financiar seus negócios de varejo.
Contudo, a inovação não floresce de um pensamento homogêneo e raramente as pessoas têm as mesmas origens. À medida que o Vale do Silício continua na luta contra sua falta de diversidade (tanto em termos de força de trabalho quanto nos produtos que cria), observamos ondas sucessivas de negócios parecidíssimos. Aplicativos de compartilhamento de fotos ou de meditação, não importa: esses produtos visam o mesmo mercado, fornecem soluções semelhantes e geralmente não fazem diferença na resolução dos problemas mais importantes do mundo.
Equipes diversas criam negócios melhores. Isso não é a minha opinião, é um fato empírico. E os empreendedores podem se beneficiar ao trocar ideias com fundadores que não se parecem e nem pensam como eles. Ao fazer isso, eles terão contato com ideias diferentes, o que lhes permite ter empatia com uma gama mais ampla de clientes. E, em um ciclo virtuoso, quanto mais empático com o cliente você é, mais fortes seus produtos se tornam.
Como consertar o problema de imagem do empreendedorismo
A necessidade por diversidade exige que ampliemos o conceito de quem é a pessoa que empreende. Se você identifica oportunidades e encontra soluções criativas para problemas, você é uma pessoa empreendedora, independentemente de quantos anos você tem ou de onde você vem.
Além disso, é fundamental que vocês se reconheçam como empreendedores. O simples fato de você se chamar assim pode ter consequências profundas. Vou dar um exemplo que acompanhei de perto e comprova a eficácia dessa autodenominação.
Minha esposa, Lindsay, é uma empreendedora de sucesso no varejo, mas costuma ser identificada primeiro como mãe e depois como dona de um negócio. Para mexer nessa “ordem de identidades” e convencê-la do contrário, sugeri para ela um teste: “Experimente incluir a palavra ‘empreendedora’ em todas as bios das suas redes sociais”. Não deu outra: as pessoas começaram a procurá-la para falar sobre trabalho. Assim que ela reivindicou a palavra “empreendedora para si, um universo de novas conexões e oportunidades se revelou, levando o negócio dela para outro patamar.
Tem sucesso? Passe adiante
Quem já é uma pessoa empreendedora de sucesso tem uma obrigação importantíssima: passar esse sucesso adiante. O empreendedorismo é uma habilidade que se desenrola em uma trajetória de carreira exclusiva, movido a relacionamentos pessoais e aconselhamentos de quem veio antes de você. É por isso que é fundamental expandir tal apoio e orientação para indivíduos de origens diversas e, muitas vezes, negligenciadas.
Empreendedores são as pessoas que resolvem os problemas do mundo. É hora de pegar nossas ferramentas, métodos e recursos para solucionar problemas críticos das nossas comunidades e mudar o que significa ser um de nós. Além de reformular estereótipos obsoletos, mulheres, imigrantes, pessoas de todas as idades e etnias estão contribuindo em peso para a sociedade como empreendedoras. Nosso futuro coletivo será melhor o quanto antes essa ficha da diversidade cair para todos.
Harley Finkelstein é empreendedor, advogado e presidente da Shopify. Uma versão deste artigo foi publicada pela primeira vez em inglês na Fast Company.
Ilustração: Islenia Milien
Sobre a autora
Carolina Walliter é escritora, tradutora, intérprete de conferências e editora-chefe do blog da Shopify em português do Brasil.
Post original em inglês: Harley Finkelstein
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